A menor colocação no ranking da taxa de frequência a estabelecimentos de ensino fundamental. Essa é a posição do Estado do Pará no levantamento ‘Presença do Estado no Brasil’ realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir de
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em contraposição ao Estado do Mato Grosso do Sul - onde a frequência dos alunos é de 94,4% - no Pará, o índice não passa de 87,2%.Segundo a diretora de ensino fundamental da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Ana Cláudia Hage, um dos principais fatores que provocam a evasão escolar no Estado é a necessidade que leva muitos alunos a começarem a trabalhar antes de concluir o ensino básico, porém, ela afirma não descartar a possibilidade do desinteresse por outros motivos. “Nosso aluno é também trabalhador. A evasão acontece justamente por causa do trabalho, mas também há as drogas... tudo isso tira o jovem da escola”, acredita. “A pesquisa aponta que são alunos do 6º ao 9º ano e essa é justamente a idade da adolescência”.
Diante do quadro preocupante que coloca o Pará na pior colocação, ela afirma que a Seduc já está tomando providências. “A Seduc vem criando algumas ações. Estamos investindo muito na qualificação dos professores. Hoje, 90% do nosso quadro tem graduação”, destaca. “Prevemos melhorias na estrutura das escolas para torná-la cada vez mais atrativa”.
Para o sociólogo Romero Ximenes, os fatores que influenciam a atratividade das escolas são mais complexos. Segundo ele, as soluções teriam que partir da melhor valorização dos profissionais que atuam nas escolas.
Para o sociólogo Romero Ximenes, os fatores que influenciam a atratividade das escolas são mais complexos. Segundo ele, as soluções teriam que partir da melhor valorização dos profissionais que atuam nas escolas.
REFLEXO
Apesar de caracterizar um aspecto da vida social, Romero explica que a escola é, também, um reflexo da sociedade e exige políticas públicas que vão além das voltadas exclusivamente para as salas de aula.
Apesar de caracterizar um aspecto da vida social, Romero explica que a escola é, também, um reflexo da sociedade e exige políticas públicas que vão além das voltadas exclusivamente para as salas de aula.
“Não existem condições concretas para que esses problemas sejam solucionados. A escola faz parte de um contexto econômico, social e político e esse contexto é que leva a afastar a criança”, afirma. “Pensamos que a escola é autossuficiente, mas não é. A criança vai para a escola cheia de problemas e a escola ainda não se adequa à cultura da criança”.
Apesar de não ser o pior, o Pará também apresenta índices preocupantes no ranking de frequência do ensino médio. De acordo com o levantamento, a taxa de frequência entre jovens de 15 a 17 anos é de 36,5%. O baixo índice coloca o Estado em quinto lugar.
Foi nessa faixa etária que o carreteiro Fredson Góis abandonou os estudos. Aos 15 anos, cursando já o ensino médio, ele resolveu parar de estudar para trabalhar em tempo integral. “Comecei a trabalhar muito cedo e a dificuldade foi aumentando. Antes trabalhava meio período e estudava a tarde, mas passei a trabalhar em período integral e estudar a noite”.
A rotina diária do adolescente iniciava já às 7h, horário em que começava o expediente. Às 18h30 ele tomava banho no trabalho e seguia para a escola. O dia só terminava às 0h, quando chegava casa vindo do colégio. “Não estava aguentando mais. Tava me dando mal nas matérias”. Diante da necessidade da escolha, Fredson acabou optando pela necessidade. “Meu pai se separou da minha mãe quando eu tinha oito anos. A gente vivia de pensão e era muito pouco. Não dava para ficar parado vendo aquela situação”.
Atualmente, segundo Ana Cláudia Hage, o governo disponibiliza um estudo diferenciado para os alunos que também precisam trabalhar: o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), ainda assim, o projeto contempla alunos que possuem acima de 15 anos e ainda estão no ensino fundamental e os que têm mais de 18 e ainda estão no ensino médio. Já os alunos que estão na idade certa para o período escolar, mesmo que trabalhem, precisam estudar através do ensino regular. “A maioria dos alunos que trabalham, participam do EJA e os professores são preparados para atuar com os alunos que também trabalham”.
TEMPO INTEGRAL
Segundo Ana Cláudia Hage, em 2012, o governo irá implantar dez escolas estaduais que funcionarão em tempo integral, onde o tempo de permanência do aluno será de nove horas por dia. Segundo a Seduc, as escolas abordarão o ensino fundamental e médio e uma delas será voltada para o ensino profissionalizante.EM NÚMEROS
87,2% É a taxa de frequência dos alunos do ensino fundamental de 6 a 14 anos no Pará.36,5% É a taxa de frequência dos alunos do ensino médio de 15 a 17 anos no Pará.
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