10 novembro, 2011

Estimativas Fiscais para os Estados de Carajás e Tapajós


CarajásTapajósTotal
Gasto Estimado do Estado em R$ bilhões3,6761,9225,597
PIB* em R$ bilhões19,2324,34323,574
Gasto em %PIB19,144,223,74
Receita Orçamentária Estimada em R$ bilhões2,6661,0573,724
Déficit Anual Estimado em R$ bilhões1,0090,8641,874
Gasto por Habitante em R$2.6812.4902.613



Os números apontam para um déficit conjunto de 1,8 bilhão de reais anuais. Esse valor teria que ser coberto de alguma forma, provavelmente, para não dizer inevitavelmente, pela União.


As informações apresentadas não pretendem menosprezar os anseios das populações locais por melhores serviços públicos e qualidade de vida. Muitos dos habitantes dessas regiões se sentem negligenciados pelo governo estadual, em muitos casos com razão. O fato de o Pará ter amplo território faz com que a distância entre Belém e os rincões mais longínquos muitas vezes seja um obstáculo para a boa governança necessária ao desenvolvimento local. É inegável que governos mais próximos da população seriam mais responsabilizáveis e que as regiões seriam beneficiadas pela criação dos respectivos estados.


No entanto, podem existir razões menos nobres, de maior ou menor legitimidade por trás das proposições de criação destes estados. Dentre elas a criação de inúmeros novos cargos eletivos e de confiança que permitiriam uma diluição da concorrência política por posições públicas.


O domínio político de áreas potencialmente geradoras de tributos também pode ser uma das razões motivadoras dessas proposições. A região que formaria o Estado do Carajás é rica em minerais e já conta com uma grande operação da Vale. A usina de Belo Monte, a ser construída nos próximos anos, será localizada em Vitória do Xingu, município que integraria o estado do Tapajós. Dificilmente o orçamento monumental dessa operação terá passado despercebido.


Contudo, a principal motivação para as proposições parece ser a inevitabilidade de aplicação de recursos federais nas regiões após o surgimento dos novos estados. Seja para construir a infraestrutura física, seja para saldar o déficit que, como foi visto acima, será criado a partir da criação das novas unidades federativas. Parece impossível que não haja aplicação adicional de fundos da União na hipótese de concretização da divisão.


Tal ideia é facilmente vendida para a população local, geralmente carente de serviços públicos. A perspectiva de atração de novos recursos, inclusive federais, traz uma esperança de que setores como saúde e educação possam ter melhorias significativas. O problema é que mais recursos para a região significam ou menos recursos para outras regiões, ou maior tributação em nível nacional, ou crescimento da dívida federal. Em uma sociedade democrática, pode-se escolher gastar mais em uma determinada região, arcando-se com uma dessas conseqüências. O problema aqui é que esta forma de atrair recursos federais é cara e antieconômica. As estimativas sugerem que a criação de um estado novo na federação brasileira adiciona ao gasto público total R$ 995 milhões anualmente, somente para manter as estruturas criadas. Assim, o desmembramento do Pará em três estados acrescentará cerca de 2 bilhões de reais às despesas de governo no Brasil, dos quais, como vimos, cerca de 1,8 bilhão não poderão ser cobertos por receitas próprias dos novos estados.


Existem circulando hoje no Congresso Nacional propostas para a criação de 13 novos estados e territórios. Caso todas se concretizem, teremos uma federação com 37 estados, 3 territórios e cerca de 13 bilhões mais cara. Isso sem contar novas proposições que poderão surgir na esteira do sucesso dos projetos que ora tramitam. Por tudo isso, a divisão do Estado do Pará não parece ser uma boa idéia.

Um comentário:

  1. A mim parece perfeitamente justo que as regiões mais desenvolvidas cedam um pouco dos vultosos recursos que recebem em favor das regiões menos favorecidas como o Norte.

    O que não me parece justo é o leilão para o caro e desnecessário Trem Bala, cujo projeto foi concebido na campanha de 2010, já estar marcado para fevereiro próximo, enquanto o povo do Norte espera há décadas pela conclusão da Transamazônica e Cuiabá-Santarém.

    Ora, se somos todos brasileiros e se o Presidente deve cuidar do bem estar de toda a população, nada justifica que o povo do Sul e do Sudeste seja adulado com obras das quais nem precisa, enquanto o povo do Norte fica isolado todos os anos porque boa parte de uma de suas principais rodovias ainda não foi asfaltada.

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